O DMC-12 com direção "à inglesa"

Como dito várias vezes aqui neste blog, o DMC-12 era fabricado na Irlanda do Norte, país que usa a chamada "mão inglesa", porém não foi produzido nenhuma unidade com volante à direita, o que é bem curioso se tratando de um carro feito num país que usa esta mão.

O foco principal da DeLorean era os Estados Unidos, porém mesmo assim ela encomendou à firma inglesa Wooler-Hodec Ltd para desenvolver a versão "RHD" (right hand drive ou numa tradução livre, direção à direita), para poder no futuro expandir seu mercado para os países que usam a mão inglesa mundo a fora e para torná-lo compatível com as especificações do Reino Unido. Esta empresa era especializada neste tipo de conversão.

Os "carros pretos"

Os carros pretos são assim chamados porque muitas vezes não tinham painéis de aço inoxidável. Eles foram usados ​​pela fábrica de Dunmurry como bancos de ensaio para o desenvolvimento de novos métodos de produção e testes. Em alguns casos, isso incluiu o teste do aço inoxidável para durabilidade da amolgadela, entre outras coisas.

Os tubos de fibra de vidro dos carros pretos eram bastante ruins, já que também eram tentativas iniciais antes que a qualidade fosse finalmente estabelecida para as rodadas de produção. As partes inferiores foram produzidas usando uma técnica chamada VARI, que essencialmente significa duas cascas separadas por espuma sendo comprimidas juntas, com resina injetada como um endurecedor. Depois que a resina endurece, as unidades se tornam extremamente fortes e, o mais importante, leves.

Infelizmente, contrariando o conselho da Lotus, que utilizou essa técnica com grande sucesso em sua própria linha de carros esportivos, os métodos de produção DeLorean decidiram tentar acelerar o processo de endurecimento aquecendo as carrocerias em um forno. Isso fez com que a resina secasse em taxas variáveis, fazendo com que as seções do corpo se contraíssem em locais, resultando em unidades inconsistentes.

Isso é evidente ao tentar encaixar painéis de aço inoxidável nos carros, pois é muito difícil conseguir um encaixe perfeito quando a cuba em si não é uniforme. Isso não é muito diferente de alguns dos primeiros 500 carros VIN, onde às vezes há uma lacuna perceptível entre o para-brisa e o painel.

Assim, uma série de carros pretos foi enviada para Wooler Hodec para o projeto, e a empresa também recebeu o contrato para descartar qualquer banheira inutilizável, todas as quais foram esmagadas ou incendiadas em uma fogueira no campo adjacente. No fundo da imagem abaixo, você pode ver a unidade de garra vermelha usada para levantar os DeLoreans para a máquina de trituração. Aparentemente, essa máquina estava coberta com emblemas DMC representando todos os DeLoreans que ela havia esmagado.


A prototipagem Wooler Hodec foi realizada em três fases:


Em primeiro lugar, um pequeno número de carros de teste foi produzido principalmente para avaliar a extensão do trabalho. Cada um desses carros estava equipado com uma transmissão manual e tinha estofamento preto no interior. Alguns desses carros sobrevivem hoje e um foi exportado para a Austrália, onde é lei que todos os carros DEVEM ter volante à direita.


O segundo lote de carros era mais completo e equipado com acessórios de iluminação europeia, incluindo acessórios de luz, indicadores laterais, remoção do conversor catalítico e assim por diante. Esses carros foram todos registrados como veículos de teste pela fábrica de Dunmurry e todos tiveram o prefixo de registro AXI. Alguns carros foram gerados a executivos da DMC para uso na Irlanda, embora seja questionável o quanto eles foram usados.
Dos 20 carros planejados para este lote, apenas 12 foram concluídos quando a empresa quebrou no meio do projeto.

O lote final de aprovado foi concluído na fábrica de Dunmurry e todos com transmissões manuais com estofamento interno preto com uma exceção VIN 12175, que é o único carro preto automático com volante à direita autorizado de fábrica. Esses carros foram todos registrados com o prefixo SIJ.

No total, cerca de vinte conversões de volante à direita autorizadas foram realizadas, e o trabalho que Wooler Hodec realizou em cada conversão foi extenso, incluindo:

• Cremalheira de direção personalizada e configuração de pedal.
• Modificações na banheira do corpo, para mover os pedais para o lado direito e para preencher o vazio do lado esquerdo.
• Novo painel e tapetes remodelados
• Adequação do sistema elétrico
• Adequação da matriz do aquecedor e unidade de ar condicionado
• Adequação do freio de mão
• Reconfiguração de limpadores de para-brisa e acessórios
• Instalação de velocímetro de 140 mph (alguns eram km/h)
• Instalação de luzes de especificação Euro
• E muitas outras mudanças

Infelizmente, a ideia de produzir DMC-12s com volante à direita nunca foi além do estágio de protótipo quando a DeLorean faliu. A Wooler Hodec parou de negociar algum tempo depois.

Um punhado de conversões independentes para o volante à direita foram executadas. Uma nota é um carro que apareceu no programa de TV 'For the Love of Cars', este carro foi RHD convertido por volta de 1990 com vários graus de sucesso e qualidade, embora não fosse de fábrica autorizado, ele não possui o mesmo valor ou valor de raridade que os modelos Wooler Hodec.

Compreensivelmente, os DeLoreans com volante à direita autorizados são bastante raros e, quando ocasionalmente são colocados à venda, atraem um preço premium em comparação com um modelo padrão com volante à esquerda.

Mas aí vocês me perguntam: mas porque raios o DeLorean com direção na direita tem essas lanternas traseiras diferentes?

Eles tem um painel embutido traseiro de plástico moldado por injeção de três peças que é claramente projetado especificamente para preencher o buraco na tampa traseira composta do DeLorean onde as unidades de luzes traseiras e o painel central costumavam estar. E também é uma adequação para abrigar a placa inglesa, que é mais larga que a estadunidense.

As chamadas luzes traseiras Rubbolite “Euro” nunca foram uma opção de fábrica. As luzes Rubbolite e as diferentes luzes traseiras / matrículas (matrículas para aqueles do outro lado do lago) circundam foram desenvolvidas enquanto a fábrica DeLorean estava em liquidação em 1982 e mais atenção estava sendo dada aos mercados não federais para tornar o DMCL financeiramente viável . Um DeLorean foi levado até Bill Towns, onde projetou o painel traseiro de seu estúdio.

A fábrica tinha números de peça atribuídos para peças de direção do lado direito, como painel de instrumentos, rack de direção, faróis dianteiros, tapetes, servos de freio, gargalo de abastecimento de combustível, etc. Não vi um número de peça documentado para luzes traseiras diferentes, então isso pode sugerir que a escolha das luzes traseiras (para o mercado do Reino Unido, pelo menos) nunca foi formalizada na mesma medida que alguns dos outros componentes.

Alguns dos carros com volante à direita foram equipados com o surround traseiro de Bill Towns e Rubbolites depois de serem vendidos em leilão, mas os carros deixaram a Wooler-Hodec com luzes traseiras federais padrão.

Além do mais, essas lanternas têm luzes de neblina, que as originais não possuem.